Paul Ricoeur: filósofo francês,intelectual empenhado, pensador do sec.XX. Nasceu a 23 de Fevereiro , em Valence, faleceu em 2005, orfão cedo,o pai morreu na 1ª Guerra Mundial, tinha dois anos , foi criado por uma tia protestante que o iniciou no estudo da biblia. Foi um jovem intelectualmente precoce, passava grande parte do seu tempo com livros. licenciou-se na Universidade de Rennes, e depois estudou Filosofia na Sorbonne, tendo como professor Gabriel Marcel. A carreira académica foi interrompida pela Segunda Guerra Mundial, serviu no exército, foi durante cinco anos prisioneiro de guerra, capturado durante a invasão alemã, ali conheceu outros intelectuais como Mikel Dufrenne com quem organizou sessões de leitura e discussão, leu Karl Jaspers, traduziu As ideias de Husserl.
Depois da guerra, fez parte da redacção da revista Esprit, foi professor de História da Filosofia na Universidade de Estrasburgo (1948-1956) em 1950 doutorou-se com duas teses ( normal em França ), numa analisou as Ideas de Husserl, a outra foi sobre A Filosofia da Vontade. Em 1955 tornou-se responsável pelo departamento de filosofia da Sorbonne, livros : La symbolique du Mal. Foi professor na Universidade de Nanterre ( 1956-1970), onde procurou escapar à tradição e ambiente sufocante da Sorbonne. Na sequência dos protestos de Maio de 1968, indispôs os estudantes contra si por pedir a intervenção da policia para manter a segurança no campus, depois demitiu-se. Cristão,não marxista, desencantado com a França, muda-se em 1970, para os EUA, trabalhou na Universidade de Chicago até 1985. Ausente dos debates revolucionários dos anos 70, preparou três volumes de " Temps et recit "e "Soi-memê comme un autre " , " La memoire , l`histoire, l´oubli". Na linha de uma filosofia reflexiva , procurou uma variante hermenêutica da fenomenologia. Tinha obsessão com o sentido e interpretação, interessou-se pela psicanálise e exegese biblíca, pelo conhecimento histórico e pela narrativa. Reflectiu sobre a memória e a fidelidade ao passado , recorrendo ao conceito de culpabilidade e reconciliação com o passado, introduzindo a questão do perdão.
Pensador engagê, militante socialista desde 1933, opôs-se a todos os totalitarismos, à guerra da Argélia ( 1954-1962) e à da Bósnia ( 1992). Mostrava uma grande preoucupação com a justiça e com o " agir ético". Organizava a sua reflexão, talvez, a partir de um atitude fundamental: "dar crédito ao outro,reconhecer em que ele tem razão, mesmo quando não partilhamos as suas posições " ( Jean-Marie Colombani, escreveu num editorial do Le Monde ). No Líbération , Robert Maggiori escreveu : " Como todos os grandes filósofos queria apenas uma coisa, perceber como o homem na sua fragilidade , mantém o seu esforço de existir e o seu dezejo de ser ", " Gérard Dupuy, ali escreveu também: " Não há hiatos entre a vida e a obra de Ricoeur, no pensamento e na acção uma mesma exigência incessante de honestidade ".
Eduardo Lourenço, ensaiasta escreveu no Dn: Ricoeur era um grande filósofo de formação protestante, cuja trajectória foi marcada por uma vontade de ingerência em todas as artes, não só na politica. Foi um Satre crente preoucupado com o trágico da acção. Malraux dizia que toda a acção é maniqueísta, Ricoeur acreditava que o maniqueísmo era uma facilidade. Para ele toda a acção acarreta uma tragédia inevitável, convicção que o guiou nos actos públicos. Percebeu que não podia escapar à ambiguidade inerente à acção., acreditava que toda a acção comporta um lado obscuro e que ninguém pode ter a certeza de estar do lado certo, a nova geração estava cheia de certezas e ele tinha dificuldades em assumir essa racionalidade vivida, da contestação que não entrava em detalhes. Essa atitude não era paralisante, tinha sempre uma opção apesar da consciência do trágico porque defenia um campo ético constante.
A sua experi~encia como prisioneiro durante a II Guerra, foi fundamental para se afirmar como um dos grandes pensadores do mal e da sua prática. Influenciou no dominio ético, reflectiu também sobre a poética.
Paul Ricoeur : A relação com a História , a memória e o conhecimento que temos de nós próprios, são temas fulcrais na obra do pensador françês, que procurava uma filosofia reflexiva.
From: DN
quarta-feira, 10 de março de 2010
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