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domingo, 9 de novembro de 2008

Joaquim Castro Caldas/Poesia


Joaquim Castro Caldas [1956-2008]

Morreu a 31/08/2008- o poeta Joaquim Castro Caldas. Na badana do segundo livro que publicou com as Quasi, escreveu:

"1956. Lisboa, actor de poesia, saltimbanco, lunático praticante, diseur a tempo inteiro, teatro de vez em quando. Escola Ave-Maria, Colégio Militar, Conservatório Nacional, escola da morte e da vida, muita estrada no coração, na cabeça e no corpo. Com este apenas 8 livros editados. A ver vamos."Entretanto, mais alguns. Depois de ter editado nas Quasi Convém Avisar os Ingleses [2002] e Só Cá Vim Ver o Sol [2004], publicou, entre outros, Há [Cobras Incompletas, s/d., julgo que de 2005] e Mágoa das Pedras [Deriva, 2008]. Um abjeccionista lírico. Revejo na estante os seus livros. E descubro Português Suave, edição de autor, primeira recolha de poesia datada de 1978. Não sei se soube do título do novo livro da Margarida Rebelo Pinto. Mas deveria ter achado a coincidência muito divertida.

Dizia berrando para se fazer ouvir entre o fumo de colegas da faculdade,no Pinguim no Porto,

a Tabacaria de Fernando Pessoa,ou o Ai se Sêsse.inesquecivél para quem o ouviu.

Fonte:

Blogue:Rua da Castela
Jorge Reis-Sá

LPC Luis Coutinhodo Aeiou/


Ai Se Sêsse

Cordel Do Fogo Encantado

Composição: Zé Da Luz

Se um dia nois se gostasse

Se um dia nois se queresse

Se nois dois se empareasse

Se juntim nois dois vivesse

Se juntim nois dois morasse

Se juntim nois dois drumisse

Se juntim nois dois morresse

Se pro céu nois assubisse

Mas porém acontecesse

de São Pedro não abrisse a porta do céu

e fosse te dizer qualquer tulice

E se eu me arriminasse

E tu cum eu insistisse

pra que eu me arresolvesse

E a minha faca puxasse

E o bucho do céu furasse

Tarvês que nois dois ficasse

Tarvês que nois dois caisse

E o céu furado arriasse

e as virgi toda fugisse.


Faleceu de madrugada, com 52 anos de idade, o poeta Joaquim Castro Caldas, que se tornou conhecido por divulgar, sentir e viver a poesia nas ruas ( em Paris, por exemplo, onde declamava poesia nos jardins e nas praças a troco de dinheiro), nos cafés e bares ( nas célebres noites de poesia às segundas-feiras no bar Pinguim, no Porto), e nas escolas de todo o país como declamador convidado.
Castro Caldas publicou 11 livros de poesia ao longo da sua vida. O último foi editado ainda este ano pela Deriva com o título «Mágoa das Pedras». Alguns dos outros livros são: "Português Suave", "Berlindes e abafadores", "Convém avisar os ingleses", "Só cá vim ver o Sol", "Colheita da época" e "Há".Joaquim Castro Caldas é como alguém já escreveu «uma das últimas vozes da poesia em que o risco é companheiro da entrega à vida na sua dimensão mais intensa»

No seu último livro «Mágoa das Pedras ( editado pela Deriva) pode-se ler:«Joaquim Castro Caldas, 52 anos, à parte dezenas de ofícios para sobreviver no Norte de África, na Europa, em Portugal e outros sítios esquisitos, desde que tem memória e se conhece que não fez nem faz outra coisa senão arte embrionária e terminal, entre centenas de aventuras, do luxo à valeta, vadio num longo percurso involuntariamente polémico de ida e volta fala-escrita ou vice-versa e documentado por registos corpo a corpo, terra a terra, sem objectivos d revelação concreta. Nada mais que esqueleto e artista, intérprete da vontade do pássaro, marginalizado irritantes porque em paz, claridade, sequer interessado em dar-se por anarka»

Poesia de Joaquim Castro Caldas

Devolução dos Cravos

um menino uma vez

o tal que há em nóssujo de liberdade

todo na ponta dos pés

tentou enfiar um cravo

no cano de uma G-3

hoje um homem talvez menino velho

sem voz democrata que se farta

mete o cravo na culatra e puxa-a de pé atrás

com medo que do seu país

(do livro "Convém Avisar os Ingleses", Quasi Edições, 2002)



Quinta-feira, dia 13 de Março, às 23h, as Segundas-feiras de Poesia descem à cave!Pois é, há vinte anos, Joaquim Castro Caldas iniciou as famosas segundas-feiras de poesia que enchiam a cave do Pinguim Café.Na quinta-feira, dia das actuais noites de poesia e, assinalando o primeiro evento das comemorações do vigésimo aniversário, o Pinguim Café presta uma homenagem a Joaquim Castro Caldas e convida muitos dos que participavam activamente ou assistiam a essas míticas noites dos finais dos anos 80.Joaquim Castro Caldas tem estado nos últimos tempos afastado destes eventos poéticos devido ao seu estado de saúde algo debilitado, mas não abandonou de forma alguma a poesia e a criação literária e lançou recentemente o seu último livro « Mágoa das Pedras » que estará também disponível no próximo dia 13 no Pinguim Café.Se alguém não tiver disponibilidade para comparecer neste dia e quiser fazer-se representar de alguma forma, sugiro que me enviem um texto para o meu email, que será naturalmente lido.


A Poesia continua a acontecer no Pinguim.Ver inf.neste blogue.

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