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sábado, 15 de novembro de 2008

Turismo/Mogadouro




“Um dos patrimónios artísticos e culturais mais típicos de Terras de Miranda é, sem dúvida, o seu folclore, com as suas danças de Pauliteiros.
Notícias da história dão os pauliteiros originários dos povos indo-europeus, que se disseminaram pela Europa Central, da Escandinávia à Península Ibérica.
Vieram, depois, os celtiberos e deram um ar da sua graça, substituindo as originais espadas pelos actuais paus.
Apetrecham-se as mãos com as armas dos tempos mais modernos. Os paulitos chamam-se palotes e os dedos têm o complemento das castanholas, para a música de fecho do lhaço.
Porém, a origem da dança dos pauliteiros não recebe unanimidade dos estudiosos que sobre ela se debruçaram. O P.e João Manuel de Almeida Morais Pessanha e outros autores atribuem a sua origem à clássica dança pírrica, guerreira por excelência. A dança mirandesa dos paulitos teria origem na dança pírrica dos Gregos, mas manifesta também vestígios de danças populares do sul de França e na dança das espadas dos Suíços na Idade Média. Os romanos seriam os responsáveis pela propagação da dança pírrica a esta região.
O Dr. José Leite de Vasconcelos não aceita esta teoria, justificando que a dança introduzida em Roma, e depois espalhada pelo império, nada tinha em comum com a dança pírrica.

O tamboril é um pequeno tambor que se toca com duas baquetas. É um instrumento de especial agrado dos mirandeses.
A gaita-de-foles é a clássica gaita pastoril ou gaita galega, mais estridente, por via de regra, do que as similares da Galiza: é também mais tosca, e por isso mais típica.
A flauta pastoril, mono tubular de três buracos, em mirandês fraita, feita ao torno manual, é de pau de buxo, ou de freixo e tocada só com três dedos duma mão: o polegar, o indicador e o médio.
Os buracos são abertos ao fundo, dois na frente e um na retaguarda. Os buracos da frente são utilizados pelos dedos indicador e médio, o buraco da retaguarda pelo polegar da mão esquerda, enquanto a direita toca o tamboril com a baqueta.
As castanholas são feitas à navalha e enfeitadas com desenhos à ponta da mesma navalha.

Também em Bemposta, influenciada pelos costumes do planalto Mirandês, existiu um rancho de pauliteiros e mais tarde de pauliteiras, que está, por agora, inactivo.
Como forma de animar os dias festivos e, na falta de banda de música ou outra forma de “ dar música”, em muitas aldeias foram criados ranchos folclóricos. Sempre que era necessário pedir a esmola para os Santos e festividades, ou acompanhar as procissões, muitas vezes, recorria-se aos pauliteiros.
De acordo com a sua história, quando pediam esmola, as danças eram executadas conforme o tipo de esmolas. Se a esmola era avultada, tinham direito à dança completa, “ posso em quatro ruas”. Se a esmola era pequena, então, a dança era só meia, isto é, “executada em duas ruas”
Pensa-se que, em Bemposta, já em 1912 haveria um rancho, dado que alguns homens, como um tal Alberto Curralo e um tal Pascoal, homens de avançada idade, já dançavam os paus. Este rancho era só constituído por homens, pois não era permitido ser de mulheres ou misto.
O grupo de pauliteiros é constituído por 8 elementos, quatro guias e quatro peões.
A função dos guias é conduzir o desenrolar da dança, permanecendo quase sempre no mesmo lugar, girando apenas sobre si. Já os peões são aqueles que têm que se deslocar durante toda a dança, indo ao batimento dos paus nos guias.
“As danças desenrolam-se, todas elas, com os elementos colocados em duas filas”.
Segundo os dados recolhidos pela Comissão de Festas de Santa Bárbara, o grupo de pauliteiros de 1918, era constituído pelos seguintes dançadores:
Guias: José Francisco Garcia
Domingos Manuel Bruçó
José Francisco Machado
António Valeriano Neto

Peões: Serafim Luciano da Trindade Machado
Manuel António Fernandes
António Joaquim Bernardo
José António Marta

Gaiteiro: António Luís Alves
Tamborileiro: Manuel Inácio Granado
Caixeiro: Francisco Custódio

“Este grupo acabou em 1961. A sua última actuação, como data memorável, foi inscrita na Igreja Matriz, onde na “pia da água benta” feita de mármore e localizada à entrada da igreja, na porta lateral, se podem ler as seguintes iniciais: “ F.S.B. 1961”, (Festa de S.ª Bárbara, 1961).
Quanto ao vestir, “os dançadores vestiam saia, camisa branca de linho, colete preto enfeitado com cordões de ouro ou a sua imitação, meia branca de renda feita de algodão, até ao joelho, xaile pelas costas dobrado em triângulo e atado à frente do pescoço, todo ele enfeitado com fitas tendo no topo frontal um grande penacho”.
Os sapatos eram os de uso comum da época.
“ A saia era feita com lenços iguais aos que as mulheres usavam pela cabeça, para se cobrirem, geralmente escolhidos de cores garridas. Estes lenços eram atados à cinta, por meio de um cinto vulgar de cabedal”.
Por baixo destas saias usavam calças arregaçadas, por cima do joelho, tipo calção curto, e atadas às pernas para que durante a dança não caíssem.
Toda a outra indumentária tinha vários adereços, conforme as necessidades do dançador.
Para lá de dois paus, o dançador usava também um par de castanholas em cada mão.
Os restantes complementos são iguais aos usados pelos Pauliteiros de Miranda.
Quanto aos laços, ou passos de dança, era tocados ou danças sem serem cantados. Mas todos eles têm subjacente uma letra própria.
Entre as letras mais conhecidas e cantadas em Bemposta, contam-se: a Bitcha, Meia Dança, D. Rodrigo, o Prim, o Vinte e Cinco, As campanitas, Laranjeira, o Castelo, as pombinhas da Catrininha, os Ofícios, a Esmola, Juan António (Padre António), a Taira, o Vira e o Fado.


Como as saudades de um tempo passado eram grandes e a renovação cultural voltou a ser uma marca das populações, em 1980, alguns dos antigos dançadores, entre eles, o sr. Artur Líbano, tiveram a feliz ideia de reconstituir os Pauliteiros de Bemposta. Na impossibilidade de motivar os rapazes, e contra a tradição, foi criado o rancho das Pauliteiras, “ raparigas cheias de vontade de aprender e continuar no tempo o estilo de dança dos seus antepassados”. Só os instrumentos continuavam a ser tocados pelo sexo masculino. Houve algumas dificuldades financeiras. Mas com a ajuda dos dirigentes da Casa do Povo, foi possível dar asas a este projecto. Ficou conhecido como “ Grupo de Pauliteiras da Casa do Povo de Bemposta – Mogadouro”. Tendo bandeira própria., conforme se refere no fascículo lançado pela Comissão de Festas de Santa Bárbara, de 1999, pág. 14.
Na festa de Santa Bárbara, em 1980, foi realizada a sua primeira actuação. Seguiram-se outras actuações em vários locais do distrito.
Este grupo de Pauliteiras teve o cuidado de manter o mais possível a tradição, quanto à vestimenta. Apenas as saias deixaram de ser feitas de lenços, e passaram a “ser feitas de um pano de cor azul escura, debruadas na sua parte fundeira, com duas faixas de veludo de cor vermelha.”
“ Esta forma de vestir aproxima-se bastante dos antigos saiotes de burel que as mulheres usavam antigamente.
As calças arregaçadas, utilizadas pelos antigos dançadores, por baixo da saia, foram substituídas por calções de perna alongada até junto do joelho.”

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