O romance “Seara de Vento” inspira-se num acontecimento verídico que ocorreu na aldeia da Trindade (Beja), facto marcante que ainda hoje integra o imaginário da população da freguesia. Manuel da Fonseca descreve um episódio ocorrido em 1932, nessa aldeia, o assassinato de António Dias Matos, operário agrícola, pela GNR. Este crime constituiu um aspecto da aliança entre o Estado fascista e os grandes latifundiários, contra a dignidade do operariado agrícola alentejano. Há uma geração de escritores portugueses que integraram o “Novo Cancioneiro” (Manuel da Fonseca, Carlos de Oliveira, Fernando Namora, Mário Dionísio, João José Cochofel, Joaquim Namorado, Armindo Rodrigues, Alves Redol e Soeiro Pereira Gomes, entre outros) sobre os quais se abateu um tenebroso “manto de silêncio”. É como se fossem escritores menores. E, no entanto, na companhia de José Gomes Ferreira, Jorge de Sena, Manuel Alegre, Ramos Rosa, entre tantos, iluminaram a nossa literatura nos “anos de chumbo” do salazarismo! Manuel da Fonseca, um dos maiores nomes literários do Alentejo, publicou o romance “Seara de Vento” em 1958. Inicialmente pensado para se chamar “Tempo de Lobos”, o autor decidiu modificar o título após conversa com o escritor Aquilino Ribeiro – precisamente quando este ia publicar “Quando os lobos uivam”. “Seara de Vento” é, sem dúvida, uma das obras literárias portuguesas mais bem importantes do século XX. O seu valor está longe de ser estritamente documental ou de mera erudição para todos aqueles que estudam as correntes literárias mais importantes da escrita ficcional portuguesa do século passado, constituindo um extraordinário testemunho do “tempo” de repressão, fome, humilhação e privação de direitos nos campos do Sul de Portugal, que foi exemplarmente “retratado” e denunciado por Manuel da Fonseca. Manuel da Fonseca, Seara de Vento, 1ª edição (1958)
Fonte :ANTÓNIO AV in aeiou
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